Médico há 50 anos sempre confessei à minha mulher uma outra paixão – a Medicina, exercício que sugere aprendizado constante. Pretendemos compartilhar algumas opiniões e informações aprendidas que, esperamos, possam ser úteis.

Optando pela neurofisiologia clínica após residência em neurologia encontramos um EEG analógico e limitado, registrado em papel por técnicas com treinamento insatisfatório e sem a presença do médico, que somente fazia a leitura depois. Movimentar o equipamento, levá-lo ao paciente grave – nem pensar. Exames não invasivos da neurologia na época eram o EEG, os raios-X e o líquor. Era frustrante receber visita de neurocirurgiões buscando informações mais precisas antes de recorrer à carotido-angiografia por punção direta, ao pneumoencefalograma e à iodo-ventriculografia, informações que não conseguíamos fornecer apesar de ter ondas lentas sinalizando “sofrimento” no EEG; elas podiam corresponder a diferentes patologias.

Com o tempo observamos o desfile de algumas “verdades”, erro de pitonisas que o tempo se incumbiu de mostrar. Alguns viram nos exames de imagem o vaticínio do fim da eletrencefalografia, relegada a plano inferior pelos que entendiam a anatomia como único recurso diagnóstico. É importante assinalar que essas aquisições representam enorme benefício para o EEG, retirando o peso de indicações pouco compatíveis e auxiliando no estabelecimento de melhores correlações eletroclínicas. Outra “verdade”: o EEG somente teria valor nas epilepsias… Nos anos 70 e 80 a neurofisiologia clínica assistiu ao desenvolvimento dos potenciais evocados, que veio somar informações subcorticais de vias aferentes a contribuições mais corticais do EEG; não veio para substituir o EEG.

O desenvolvimento dos potenciais evocados foi dependente dos computadores, mas o EEG também se beneficiou dessa ferramenta, com enormes aplicações no EEG digital e no EEG quantitativo, além de permitir miniaturização e portabilidade. A neurofisiologia clínica foi levada a hospitais (UTI incluída) e outro importante passo veio no atendimento aos pacientes agudos e subagudos, fazendo o médico entender a necessidade e as vantagens do trabalho em equipe, tanto interagindo de forma multiprofissional como no estabelecimento da própria equipe de neurofisiologia. É claro que o neurofisiologista deve participar do treinamento e do desenvolvimento dos outros profissionais de sua equipe, como biomédicas e técnicos, contando com colaboração na parte científica e conseguindo maior eficiência na execução dos exames.